segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Encontro Marcado com Teatro


























Entrevistado: Martingil Egypto
Dinheiro
Hoje é dia internacional do teatro?O teatro brasileiro tem o que comemorar??

27 mar
Martingil
Boa pergunta
São poucos no Brasil, aqueles que conseguem sobreviver de Teatro. Naturalmente, não podemos contestar a excelência de grupos como o Galpão (BH), Armazém (RJ), Sobrevento (SP) e de outros que têm sido patrocinados há alguns anos, mas, por outro lado, há grupos e profissionais tão competentes quanto os citados, que conseguem às duras penas, sem patrocínio e sem apoio, mostrar o seu trabalho, mas nem sempre, conseguem um bom retorno de público. Porém o pior, é que há um apelo em torno de mídia, que em muitas vezes favorece um rostinho bonito e/ou famoso, sem a preocupação com qualidade, ou seja, empresas patrocinam determinadas montagens, pelo simples fato de contar no elenco, com algum televisivo, o que nem sempre significa ser bom ator ou boa atriz.Há um fato que não vou citar, onde o patrocinador exigiu a presença de uma ex-big brother, para atrair público. Lamentável.Hoje, não estamos muito para comemorações, mas em se tratando de políticas públicas, posso afirmar que a Funarte na gestão do Antônio Grassi conseguiu sair de um marasmo de 12 anos, trazendo uma esperança para os profissionais das artes cênicas e das artes plásticas. Vamos aguardar os resultados.Abraço

27 mar
Eduardo
Olá!Gosto muito de teatro, mas reconheço que é muito difícil encontrar peças boas. Só para citar, das que eu vi, a que mais gostei foi "Alice através do espelho", um peça famosa underground no RJ, e achei muito boa a adaptação de "godspell" do Falabella.A impressão que fico é que tem uma coisa em comum com filme: qualidade não é consequencia de orçamento (pode custar 70,00 e ser um droga ou 5,00 e ser ótima). Parece depender mais do roteiro e dos atores.Mas me passa então a impressão que falta auto-crítica e abertura às críticas externas no ramo. Muitas vezes termina uma peça "bem da meia-boca" e vejo o público alternativo achando o máximo... Alternativo não tem que ser mal-feito!Sendo assim segue a minha pergunta: o Sr concorda comigo que o nível de exigência do teatro não é muito alto?Outra coisa: não acha a atuação um pouco exagerada demais para a realidade em mais de 90% dos casos (berra-se demais, linguagem irreal, situações exageradíssimas)?

28 mar
Martingil
EduardoHá muitas produções boas também, mas não contando com alguma estrela no elenco e tendo poucos recursos para divulgação, não conseguem atrair público facilmente. Triste realidade.Com certeza, qualidade não é sinônimo de alto custo de produção, já vi cenários faraônicos, figurinos extravagantes, iluminação espalhafatosa, elencos caros, para espetáculos absolutamente medíocres. Mas há que se ter um mínimo necessário para uma montagem.Quanto ao nível de exigência, o que entendo, é que o teatro ainda carece de público. Muitos não têm condições e muitos simplesmente não têm o hábito, mas há uma questão aí, muito subjetiva. O que pode ser bom para mim, pode ser ruim para você e vice-versa, mas fico preocupado com o fato da televisão ainda ditar regras e padrões, o que pode provocar no expectador, uma certa confusão de linguagem, ou seja, o sujeito vai ao teatro, esperando ver alguma coisa muito parecida com que costuma assistir na tv e mesmo que não seja um trabalho de qualidade, como já tive o desprazer de assistir alguns, sai convencido de que viu um bom teatro.Em relação à sua última pergunta, se são bons atores ou boas atrizes, não precisam berrar e nem exagerar no gestual, ou o que quer que seja.Abraço

9 abr
Silvana
educação
Sempre que estu emalguma dúvida, acabo me danod a mesma resposta.O que falta é educação?Tenho a convicção de que as politicas educacionais levaram à falência da busca por uma cultura tão rica e diversificada quanto a brasileira.Será realmente que a falta de exigência vem apenas do aculturamento por uma "má televisão" ou ela começa na deficiência de nossa educação formal?

10 abr
glória
Sou fã de Teatro. Sempre fiquei fascinada pelos espetáculos,mas ao mesmo tempo sentia uma angústia por constatar que infelizmente para a maioria da população ele não era acessível, ou melhor continua não sendo. O que fazer para mudar essa realidade? Como torná-lo menos elitista? Pois, as melhores montagens estão vinculadas a preços ainda inacessíveis para a população.

10 abr
Pescador
Boa noite.
Existem algumas coisas que gostaria de saber sobre o teatro.. Sobre os grupos teatrais que não dispõe de patrocínio de qualquer forma. Você conhece algumas idéias destes grupos que se mostraram verdadeiramente eficazes para se fazerem mostrar ao público?. Você conhece a realidade dos grupos de teatro que trabalham nas chamadas "zonas de risco" de determinada cidade(este nome é da televisão, então me perdoe se ele for apenas pejorativo)? E até que ponto se mostraram eficazes? (Um exemplo já me fará satisfeito). Pelo pouco que lí, o teatro nasceu na Grécia e tinha um cunho religioso e didático (lí pouco mesmo, muito pouco). Hoje o teatro é extremamente plural ou pode-se traçar uma linha que na qual se defina o teatro hoje? (Isto se não for a pluralidade, claro!)

10 abr
Cleidson
Prezado Martingil,Sou professor das séries (ou ciclos, se preferir) do ensino fundamental de 2 escolas públicas: uma em Bh e outra em Contagem, Minas Gerais.Desenvolvo desde 2000 projetos que visam um contato de meus alunos com o teatro, incluindo-se a coordenação de dois grupos teatrais, compostos por alunos de idades entre 8 e 11 anos. Um dos quais existe desde 2004.Gostaria que vc me desse sugestões de obras infantis não muito conhecidas do público em geral e que sejam de qualidade para que eu possa desenvolver futuramente projetos com elas. Preferencialmente aquelas que possibilitam a participação de um número maior de personagens. Acima de 10, por exemplo.Agradeceira muito sua colaboração.

11 abr
Martingil
Glória, Pescador e Cleidson
Como não estou com tanta disponibilidade, solicito a compreensão de vocês, no sentido de responder uma pergunta por dia.Tenham a certeza de que irei cumprir com o compromisso.Agradecido.

Martingil
SILVANAPara início de conversa, concordo quando afirma que a nossa cultura é muito rica e diversificada. Tive o privilégio de conhecer todas asregiões deste país e embora nunca tivesse saído dele, não acredito que haja outro com um povo com tanta criatividade nas veias.Já ministrei e já assisti cursos e oficinas de colegas, dirigidos a pessoas, sendo que em muitos casos, jovens e crianças que nunca entraram em um teatro, para citar um exemplo e que conseguiam, apesar disto, apresentar, movidos à emoção e a esta criatividade, excelentes resultados.Por isso, ainda não acredito que a nossa cultura, mesmo estando por um fio, ainda não esteja falida, mas há que se lamentar, realmente,o descaso que vem nos assolando há muitos anos.Nos governos Collor e Fernando Henrique, as políticas de fomento à cultura ficaram em um patamar inferior e ficamos a bordo de um barco à deriva. No primeiro, o Ministério que o Sarney havia criado foiextinto e com ele, vários órgãos e instituições que vinham prestando bons serviços.No outro, apesar da recriação do Ministério da Cultura, não houve uma ação real quanto ao incentivo da criação e da difusão da cultura.Sem querer bancar advogado de defesa, reafirmo que o Antonio Grassi, nos últimos quatro anos conseguiu fazer da Funarte, uma verdadeira Fênix, criando projetos de grande interesse e apoio, proporcionando uma injeção de estímulo.Mas ainda estamos a passos curtos e há uma real falta de um grande investimento, tanto na educação, quanto na cultura, que no meu entendimento, caminham juntas.Quanto à falta de exigência que se refere, acredito que em primeiro,na deficiência de uma educação de base, mas a televisão exerce um poder indiscutível na formação de opiniões e aí eu pergunto: Qual a função social, cultural e educacional de um BBB?Se fiquei devendo alguma coisa, estou à sua disposição.

11 abr
Silvana
ficou devendo nada não, foi ótimo e esclarecedor do seu ponto de vista. Com o qual concordo, apesar de estar tão mal-informada sobre alguns novos projetos.Apenas pra esclarecimetno: me incomoda a falência da busca por cultura, de nao aprendermos a buscar cultura como entretenimetno e crescimento pessoal, da leitura de um livro até ir ao teatro e entender seus códigos, ter capacidade de formar nossa opinião sobre o que vemos e recebemos através de nossos sentidos. É essa falência, essa incapacidade de buscar a cultura que me parece gerada pela baixa qualidade de nossa educação de base. Pois ainda no antigo 1º grau eu tive aulas de filosofia, artes, música e tenho a convicção de que isso fez toda a diferença.

14 abr
Martingil
Glória
Infelizmente você tem razão.O Sarney, antes mesmo de se tornar presidente, criou uma lei de incentivos, onde empresas passariam a investir na produção cultural, como forma de patrocínio, uma parte destinada ao pagamento do imposto de renda.Anteriormente à esta lei, o produtor de um espetáculo teatral bancava uma montagem com recursos próprios, contando com algum apoio, como tecidos, madeiras, material gráfico.... e na maioria das vezes, não só recuperava o investimento, como obtinha lucro. Após a lei, acreditava-se que obtendo recursos que na realidade são públicos, o empresário teatral de uma maneira geral, iria tornar o teatro mais acessível, mas na realidade, o manteve distante da população, que já demonstrou grande interesse em assistir, nas raras oportunidades.Ao longo dos anos, a lei sofreu algumas alterações, mudou de nome (de Lei Sarney para Lei Rouanet), mas, lamentavelmente uma coisa não mudou:- É muito difícil para quem não está na grande mídia ou para aquele que não tem conhecimento dentro das empresas, obter verba para suas produções, mesmo que esta verba venha, insisto, dos cofres públicos.Alguns estados e municípios também criaram suas leis, baseadas no ICMS.Existem também programas de apoio às produções, com recursos próprios do poder público, tanto federais, como estaduias e municipais, onde as concorrências são grandes e os recursos são pequenos, sendo que em alguns casos, o famoso QI (quem indica)ainda exerce um grande poder.As leis têm falhas? Sim. Os recursos são poucos? Sim, mas bem ou mal existem, porém se houver honestidade, se houver uma mudança de visão do lucro fácil nos empresários teatrais e se os governos exigirem uma contrapartida social levada a sério com fiscalização rigorosa nas produções que utilizam os recursos da população, acredita-se que uma grande parte desta poderá ter acesso ao teatro.

14 abr
glória
Sua resposta esclarecedora acabou por gerar uma nova pergunta: é válido então em nome de patrocínio escalar artistas que figuram na mídia, mas que demonstram um talento aquém que a profissão exige?Como telespectadora fico indignada com a falta de seriedade na escolha de elencos, principalmente na televisão, onde rosto bonito e corpo sarado tem prevalecido diante do talento de alguns artistas que estão desempregados enquanto esses meros repetidores de texto nos insultam com "atuações" pífias. Onde vamos parar?

14 abr
glória
Será que o Teatro irá se tornar refém desse sistema?

15 abr
Martingil
Pescador
Pela ordem:Conheço sim. Viajei por vários lugares a serviço do teatro, como jurado e como ministrante de cursos em festivais e posso assegurar que existem grupos que, mesmo com muita dificuldade, conseguem apresentar um trabalho sério e de qualidade, dignos de uma consideração maior por parte de empresas patrocinadoras. Sou colaborador voluntário em uma instituição que atua com projetos sócio-culturais no Rio de Janeiro, mais precisamente, no bairro de Vigário Geral, considerado como área de risco.Formamos um grupo de teatro com jovens da região e já montamos doistrabalhos. O segundo, baseado na chacina que havia ocorrido lá há mais de dez anos, foi apresentado em várias comunidades e teve um grande acolhimento do público.Um exemplo de um trabalho social de grande repercussão, é o grupo"Nós no Morro", da comunidade do Vidigal - RJ.Pelo que entendi da sua terceira pergunta, é possível consideraro teatro de hoje como plural sim, uma vez que há uma vasta diversificação de linguagens.Um abraço

15 abr
Martingil
Cleidson
Vou me informar para saber se há algum site que ofereça textos teatrais dirigidosao público infantil ou infanto-juvenil, mas se interessar um site com obras que possa vir a adaptar para teatro, aí vai um link interessante:
28 abr
Martingil
Pois é, Silvana
Também acho que a educação de base atualmente, deixa muito a desejar.Os investimentos são insuficientes e a impressão que tenho é que não é a toa, uma vez que, se tivermos uma população com acesso à informações e à cultura, é possível haver realmente uma modificação no sistema vigente.

28 abr
Martingil
Vamos lá Glória:
Na minha opinião, não, mas na opinião daqueles que "acreditam" que estejam patrocinando, sim. Digo acreditam, porque na realidade, se a montagem utiliza recursos provenientes de "leis de amparo", o dinheiro é público, mas é sabido que nas empresas há manipulações e privilégios.Mas um outro problema que se enfrenta, é que é lamentável eu ter que admitir, é que a classe teatral, ao contrário do que se imagina, é muito desunida e competitiva, sendo que a sua maioria olha somente para o seu próprio umbigo e se o dele, ou dela, estiver garantido, o que importa com quem irá contracenar?Isso não é regra, naturalmente, ainda há os que pensam o teatro sob uma outra ótica .Infelizmente, depara-se com estas condições extremanete desfavoráveis ao se querer fazer um teatro realmente sério e com conteúdo.
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"As fotos e vídeos não refletem, necessariamente, a opinião do entrevistado, sendo meramente ilustrativas e de responsabilidade da editora do Blog."
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