terça-feira, 6 de novembro de 2007

Entrevistando Um Ex-Presidiário





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Convidado:Aurélio (Tio Sombra)



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The shawshank redemption

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Anônimo
Vou começar pelo básico: Por que vc foi preso e por quanto tempo ficou?

4 jan
SrtªBerrocal
Aurélio
Primeiro quero dizer que conheço sua história e eu te indiquei pra MPE pois sei que vc pode desmistificar muita coisa. Para tanto, nos mostre uma reflexão sobre os tempos de "tranca", o dia a dia, e algumas coisas que podem ser ditas. Abraços e minha admiração sempre!

4 jan
roberto
Por qual(is) penitenciária(s) passou? Quanto tempo na delegacia? Qual(is) a(s) diferença(s) de tratamento e condições prisionais entre a delegacia de polícia e a penitenciária?

4 jan
ღMarianneஜ
Havia facções contrárias aonde tu estivestes preso? Tu tinhas que escolher entre ficar de um lado ou de outro?

4 jan
Aurelio
Mary..
21 processos, todos de estelionato e falsificação de documentos.Total das penas após sucessivas revisões feitas por mim mesmo: 19 anosTotal cumprido: 13 anos, tendo sido beneficiado por Indulto (perdão do restante da Pena em 1999).

4 jan
Anônimo
Falsificações de documentos, tipo passaportes, rg's, talonários, habilitação, diplomas?É fácil arrumar o tipo de papel impresso prá documentos?

4 jan
Aurelio
Roberto...
Em Delegacias, somando tudo creio que aproximadamente 1 ano, o restante todo no sistema penitenciário do Rio de Janeiro.Unidades: Ary Franco (Água Santa), Hélio Gomes, Cândido Mendes (Ilha Grande), Milton Dias Moreira (Setor B), Esmeraldino Bandeira, Bangu 3, Sanatório Penal (problemas de pulmão causados por espancamento em delegacia), Placido de Sá Carvalho (Semi Aberta), Edgar Costa (Semi Aberta).Nas delegacias, a velha condição sub-humana, onde em celas de 2x3 m colocam mais de 20 pessoas, e peguei tanto a época em que a comida era uma vez por dia, estragada, até a época das quentinhas superfaturadas.Nas Unidades do Sistema, Água Santa sempre foi uma delegacia melhorada, mas com um histórico de espancamentos e até mesmo mortes de apenados (até bomba de fósforo já foi jogada por guardas em cela, matando mais de 20 presos), nas demais, não tive maiores problemas, até por ter sempre exercido atividade laborativa, em diversas funções (datilógrafo do serviço social, de seção jurrídica, marceneiro e encarregado de marcenaria, monitor de curso de informática, etc)Durante o cumprimento de pena, estudando autodidaticamente (pois o estado não provê esse tipo de estudo) concluí através dos exames supletivos o meu ensino médio, e fui aprovado em 5 vestibulares:Direito - Un. Santa ÚrsulaNutrição - Uni-RioSociologia - UFFGeologia - UFRJPedagogia - UERJ

4 jan
Aurelio
Marianne
O tempo que passei, fez com que eu passasse por todo tipo de situação, pois desde a guerra que provocou a separação em facções, originalmente Jacaré (composta pelos que estupravam e assaltavam outros presos) e Lei de Segurança (que mais tarde originou o Comando Vermelho) e minha opção foi por permanecer em unidades do CV.Posteriormente, de outras dissidências, dentro do próprio CV, acabaram se formando outras facções, como o Terceiro Comando e atualmente ADA, que acabaram se fundindo.Mesmo com a separação de facções, em algumas Unidades haviam alas destinadas a uns e a outros, assim como nos hospitais (sempre considerados um campo neutro, e nas semi-abertas onde os eventuais problemas sempre foram evitados pelo objetivo maior de obter a liberdade.

4 jan
Aurelio
Almah
Compras com cheques, Gangs de PIS, essas coisas. Na época era relativamente fácil, atualmente não sei, pois não tenho mais qualquer contato com esse meio.

Aurelio
Lica...
Vi, durante o tempo que passei, entrar em vigor a LEP (apenas em teoria), e acredito que se fosse realmente aplicada na íntegra, ou seja, completamente, o que nela está previsto, adequando-se as unidades prisionais, voltando-as para os objetivos precípuos de reeducação e recuperação dos apenados, com certeza conseguiriam diminuir os absurdos e elevadíssimos índices de reincidência que se verificam.É estranho que, além de não adequar as unidades existentes em 1984, nenhuma das novas unidades foi construída dentro do que vai expresso na LEP, o que evidencia um total descaso e desinteresse por parte do Estado em realmente diminuir esses índices crescentes de criminalidade.A questão do acompanhamento e assistência ao egresso também seria de suma importância, pois é uma falácia dizer que um ex-apenado não consegue emprego... mas é uma realidade que, sem documentos, com a roupa do corpo, sem moradia e alimentação, como é posto em liberdade, dificilmente conseguirá alguém aguentar até receber o primeiro salário... esse apoio não existe por parte do Estado ou da sociedade, mas se o egresso for a qualquer boca de fumo, lá terá roupa, alojamento, alimentação, em troca do compromisso de reincidir imediatamente... de integrar o grupo criminoso.

4 jan
■ São Dogbert
Aurelio:
1) O que te levou a planejar e cometer estelionato? Foi necessidade ou foi ambição? Foi falta de oportunidade ou foi justamente a oportunidade?2) Como ficava a tua consciência naquela época? Questionavas moralmente as tuas atividades, ignoravas solenemente estes questionamentos ou os sufocava com adrenalina e com autojustificativas?3) Como se deu a "conversão" de alguém que ontem praticava uma atividade que prejudicava os outros para alguém que hoje pratica a defesa dos direitos de todos? Quais foram os fatores desencadeantes desta mudança, e quais foram os fatores que tiveram que estar presentes para que te mantivesses neste caminho? (Depois tem mais, é claro.)

4 jan
■ São Dogbert
Bá, justo agora estás online, e eu estou atrasado para o serviço. Mas a gente se vê em breve.

4 jan
Dettingrato
Caro amigo.....
Não sei se vc assistiu o filme,Prenda-me se for capaz(com O L.de caprio,dirigido por Steven spielberg),O filme éinspirado na extraordinária história de um brilhante e jovem mestre na arte de enganar os outros.Eu te pergunto....Vc arrepende-se de erros cometidos ?E se não os tivese cometido vc acha que não teria sido pego ?Afinal o crime compensou pra vc?

4 jan
Aurelio
Pode parecer absurdo...
Mas quando fui aprovado para Direito, que é a carreira que pretendo seguir um dia, uma promotora da VEP-RJ, Dra Celma, afirmou que "Direito não é uma carreira adequada a um preso...", Da mesma forma que, posteriormente, quando depois de 5 anos lutando para obter minha progressão de regime, matriculado na UFRJ para Geologia (fui aprovado em 5º lugar, num vestibular todo discursivo), essa mesma promotora deu o seguinte despacho: "Não acredito que as disciplinas escolhidas sejam as mais adequadas ao curso pretendido...". Note-se que eram a grade bpasica indicada ao primeiro período de Gelologia na UFRJ.Quando afinal, me permitiram cursar, em função de minhas notas, fui convidado, por escrito, pelo CENPES da Petrobrás, para conhecer e permanecer durante 15 dias numa plataforma, na bacia de Campos e, adivinhem: essa mesma promotora foi contrária e o Juiz da VEP acatou...(talvez eu quisesse fugir a nado para a Africa).Interessante também comentar que, no regime fechado, prestava serviços como encarregado de marcenaria para uma empresa, na Pen. Milton Dias Moreira e, ao ir para semi-aberta para estudar na UFRJ, essa empresa forneceu toda a documentação, inclusive carta de emprego, para que eu pudesse continuar trabalhando para eles... e foi negado pela VEP, ou seja, faça uma faculdade, sem dinheiro nem para o ônibus...Por fim, num procedimento de revista (normal nas unidades) realizado enquanto eu estava em aula, fora da unidade, foram rasgados livros meus e pertencentes à biblioteca da UFRJ e, ao me dirigir à Administração para pedir que me dessem uma declaração onde constasse que eu não estava na unidade durante o ocorrido... simplesmente fui colocado no castigo, em isolamento por 30 dias.... ou seja, passei pelo Regime fechado com comportamento excepcional, e na semi-aberta consegui ficar em isolamento por 30 dias....Parece que realmente, além de não ajudar, ainda conseguem atrapalhar os que tentam por seus próprios meios seguir por outro caminho.

4 jan
Aurelio
São Dogbert
Num primeiro momento, a necessidade.... nos subsequentes a facilidade e a certeza (que todos têm) de que jamais serão pegos...A única justificativa à minha consciência, era a de estar tirando do governo e de grandes comerciantes, ou seja, jamais pratiquei crimes contra pessoas físicas, ou contra quem fosse realmente sentir falta (ex. quem lesa um aposentado ou um assalariado).Partia do princípio de que, os grandes comerciantes, todos tinham seguro, e também acabariam por deduzir as perdas em seus impostos de renda, portanto, era um mal menor o que eu causava.No caso do PIS, o que retirávamos, acabava reposto, sem prejudicar o trabalhador, que comprovava não ter ele sido o autor do saque.

4 jan
Aurelio
A mudança de rumos...
Como descrito acima, o tempo em que passei na prisão, empreguei na busca de conhecimento, complementando meu ensino fundamental e atingindo o nível universitário... nesse processo, tive contato com alguns livros de Filosofia, que considero realmente muito importantes no processo de entender a minha problemática e definir meus objetivos.Também participaram desse processo um Guarda, Wilson, que era o Chefe de Educação em Bangu 3, e convidou a mim e mais 10 apenados, para como monitores auxiliar no processo de montagem da Escola, de um curso de alfabetização e suplência, e de computação. Em 6 meses conseguimos reduzor o indice de analfabetismo da unidade, tivemos um dos maiores índices de aprovação nos exames supletivos, montamos uma biblioteca, uma oficina de artes, sala de tv com canal futura, curso de operação e de manutenção de micros... depois de tudo feito, apareceram algumas autoridades (engenheiros de obras prontas) para inaugurar a escola... e conseguiram depois estragar todo o trabalho realizado....Desde 1999, quando fui beneficiado por indulto, vim para São Paulo, onde reconstruí minha vida, como tpecnico autônomo de micros a princípio e hj com uma firma individual de montagem e manutenção de computadores.Tenho uma carteira de cerca de 300 clientes regulares e mais outros tantos esporádicos, atendo 24 hs , 7 dias por semana (não é merchandising... risos).Minha participação nas comunidades voltadas para esse assunto vem da consciência da necessidade de falar às pessoas em geral, sobre essa experiência, sobre as dificuldades que existem aos que desejam de fato seguir por outros rumos, por conta de certos estigmas, de certo preconceito que se forma a partir do desconhecimento das pessoas quanto à realidade do sistema prisional.Não existem santos lá.. mas com certeza, existem pessoas que podem e devem ser ajudadas a encontrar outro rumo. Não se trata de complacência, ou impunidade, ou mesmo regalias e, podem ter certeza de que não é isso que importa aos apenados...

4 jan
Aurelio
detty PAZ
Existem muitos pontos de vista, para se encarar uma mesma situação.É possível que se determinadas situações não tivessem ocorrido, eu tivesse sim saído impune, da mesma forma que tenho certeza de que nenhum criminoso jamais pagou por tudo que fez, apenas pelo que foi pego...Se compensou? Eu diria que sim, não pelo lado financeiro, mas pelo lado pessoal, pois toda essa experiência, com certeza contribuiu para o que sou hj, o que penso e como encaro a vida.O próprio período da prisão, não foi apenas de sofrimento, pois consegui, apesar de tudo elevar meu conhecimento, meu nível intelectual, enfim.. não foi um tempo perdido.

4 jan
ღMarianneஜ
Puxa Aurélio que bom saber que apesar de tudo que fizestes, tu conseguistes dar a volta por cima, estudastes e estás afastado desse meio. Parabéns!Tu serves de exemplo, e mostras que as pessoas que cometem erros podem se regenerar.Mais 2 perguntas:Já pensastes em escrever um livro sobre tua experiência? É verdade que a comida na prisão é uma verdadeira lavagem?

4 jan
Beatriz
Aurélio
Sabe que te admiro demais Minha pergunta é a seguinte:Voce relatou que:“Por fim, num procedimento de revista (normal nas unidades) realizado enquanto eu estava em aula, fora da unidade, foram rasgados livros meus e pertencentes à biblioteca da UFRJ e, ao me dirigir à Administração para pedir que me dessem uma declaração onde constasse que eu não estava na unidade durante o ocorrido... simplesmente fui colocado no castigo, em isolamento por 30 dias”.Aurélio, você já pensou em montar uma ONG para apoio a egressos?Você acha que as esposas e mães enfim parentes dos presos devem criar Associações de Parentes e Amigos de Detentos com o objetivo de lutar contra o tratamento cruel e desumano e pelos direitos dos presos, com o objetivo de percorrer as instituições, como o Ministério Publico e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), cobrando ações contra os abusos cometidos com apenados e seus familiares pela direção de presídios?Você acha isso viável?Abraços;Beatriz

4 jan
Sr.Nadilson
Aurelio,
Obrigado por se dispor a responder.Tenho algumas perguntas referentes a vida carcerária.-P q optou pelo CV?-Existe ritual de iniciação para fazer parte do Cv e estatutos?-Como se estruturam hierarquicamente os líderes destes comandos?-Soube que existe um compromisso vitalício para os protegidos. Procede esta informação?Se sim, como vc está tratando isto atualmente?

4 jan
Aurelio
Marianne
Sim, é possível que eu escreva um livro sobre as experiências que passei, mas somente se isso puder de alguma forma contribuir para mudar para melhor o sistema.É relativo, pois atualmente, apesar de superfaturadas, são servidas refeições do tipo industrial, por empresas terceirizadas e, em algumas unidade se consegue até mesmo retemperar a comida ou mesmo fazer. Já foi bem pior...Apenas não creio que o que se declara servir aos presos, seja condizente com a realidade do que é servido...

5 jan
Aurelio
Sim, Beatriz...
Creio que o caminho natural será participar ativamente de algo nesse sentido.Entendo inclusive, que talvez fosse uma boa alternativa, estimular-se o Cooperativismo, de forma a que tanto apenados e egressos e também seus familiares pudessem participar de programas de geração de emprego e renda... penso que poderia ser uma solução interessante, participativa e que poderia realmente estabelecer um compromisso válido e aceito pela massa carcerária com os objetivos de recuperação e ressocialização.A função de fiscalizar e até mesmo de denunciar os abusos, de forma organizada en ONGs eu creio que exporia os familiares a riscos, mas seria necessária uma maior participação tanto do MP como dar efetiva funcionalidade aos Conselhos de Comunidade, que de certa maneira permaneceram mais na teoria do que atuantes.A sociedade tem Leis e instrumentos para fazer cumpri-la, mas é apática no sentido de participar e cobrar os seus direitos. Talvez por isso tenhamos de um lado impunidade para alguns, e de outro abusos em relação a outros....

5 jan
Aurelio
Nadilson
Quando entrei, era a lei do mais forte que imperava, com grupinhos assaltando e estuprando os mais novos e mais fracos. Quando o Estado misturou presos políticos com o pessoal que estava preso por assaltos a banco e, por consequencia enquadrados também na Lei de Segurança Nacional, houve uma troca de informações, e sobretudo a consciência de que a união e cooperação poderia tornar possível suplantar a força. Foi nesse contexto que nasceu o que hj chamamos de Comando Vermelho. Como um grupo que lutou e venceu a opressão dos próprios companheiros de cárcere, resultando numa separação de facções.Não existia neutralidade dentro do sistema, ou se estava de um lado ou de outro e, naquele contexto, o CV era a melhor opção.Não, não existe "compromisso", nem tampouco obrigatoriedade alguma, ou juramentos ou coisa do gênero dentro do CV.Tanto é assim que muitos companheiros, assim como eu, saíram dessa vida, e jamais tiveram problema algum.Não posso afirmar em relação a outras facções, por absoluto desconhecimento, e seria leviano se afirmasse algo por "ouvir dizer".

5 jan
Ariel
Aurelio
Boa noite, queria lhe perguntar se os presos dependendo do crime que cometeram lá fora são punidos dentro da cadeia.Por exemplo vc falou que houve presos que estupravam presos.Não seria o caso de gente que lá fora estuprou crianças e mulheres?;E depois uma vez pegos eram estuprados lá dentro como forma de pagamento pelo mal cometido.O mesmo um assassino de crianças, ou um ladrão que roubou e cometeu latrocínio.Existe alguma "tabela" que diga se o preso uma vez pego paga de alguam maneira o dano cometido?Muito grato

5 jan
■ São Dogbert
"Direito não é uma carreira adequada a um preso..."Ela disse isso por escrito? Sério? Sem nem sequer corar?

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The final escape of Papillon
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5 jan
Anônimo
Boa noite
Aurélio, gostaria de saber se acontecesse uma oportunidade de fuga da penitenciária, mas pra isso tu tivesse que matar um agente ou algum outro policial, tu farias? (sem considerar teu atual momento, tente imaginar a situação na época em que tu estavas preso, pois provavelmente deves ter mudado bastante de lá pra cá.)E como foi o tratamento que tu recebestes por parte da guarda nas penitenciárias? (desconsidere delegacias e o regime semi aberto).Obrigado.

5 jan
Aurelio
Ariel
Falando especificamente do Rio de Janeiro, os fatos relatados acima se deviam mesmo à opressão de grupos mais fortes sobre os mais novos ou mais fracos.Quanto a haver distinção e até uma cobrança em relação a estupradores, alcaguetes e os que promovem crimes contra crianças, isso de fato existe, mas no caso do CV não é através de estupros.... é mais fácil que sejam mortos durante alguma greve ou rebelião.Não existe "tabela", mas um código de conduta próprio do cárcere, que embora não escrito, é respeitado por todos.Necessário dizer, entretanto, que muitos dos antigos membros do CV, que participaram de sua formação e concepção originaria já não existem mais, pois morreram ou alguns abandonaram as atividades e, ao longo do temposeus sucessores foram perdendo algumas das características que norteavam suas ações.Certas atitudes dos tempos atuais, seriam inconcebíveis a alguns anos...

5 jan
Aurelio
Dogbert
Sobre "Direito não ser carreira adequada a um preso" eu não posso afirmar com segurança estar por escrito em meu processo, mas ouvi isso do meu Advogado e também de uma das Advogadas da Pastoral Penal do Rio de Janeiro, o que me faz deduzir que deva haver algo escrito sim.Quanto a "Não acredito que as disciplinas escolhidas sejam as mais adequadas ao curso pretendido", referindo-se às da grade b´pasica de Geologia - UFRJ, isso eu pude ver, pessoalmente, manuscrito por tal promotora como despacho em meu processo, tendo inclusive tirado cópia e encaminhado à Reitoria da UFRJ, após o que resultou um ofício à VEP e foi afinal concedida a autorização de frequencia às aulas (junto com a negativa da autorização de trabalho)...

5 jan
Anônimo
Na sua visão, o que seria um bom começo para a reestruturação do sitema carcerário?

5 jan
■ São Dogbert
Contrastando extremos:
Qual a cena mais triste e qual a cena mais hilária de que lembras do período em que estiveste preso?Nossa, essa promotora sem-noção se acha a rainha da cocada preta, hein?

5 jan
■ São Dogbert
Ah, quer dizer que não fizeste direito porque a opinião pessoal da tal promotora era de que isso não era adequado?

5 jan
Aurelio
Fabian...
Conscientemente jamais participaria de nada que pusesse em risco a vida de quem quer que fosse. Nem mesmo minha Liberdade valeria o preço de uma vida.Em relação aos Guardas, conheci de todos os tipos, desde os que adoravam espancar presos, ou corruptos até os mais corretos e íntegros, e outros que não abdicaram de sua humanidade apesar da função.No que se refere à minha conduta individual e o trato em função da mesma, os atritos foram quase inexistentes. Claro que nas situações de greves e rebeliões, fui tão espancado como todos os demais.Tenho até os que se tornaram amigos pessoais hoje me dia, e até clientes de manutenção de micros.Estes, com certeza, os que vi desempenharem suas funções sem exorbitar, sem violência gratuita e, acima de tudo, íntegros.Vejo os guardas como vítimas, tanto quanto aqueles a quem vigiam... vítimas de um sistema inadequado e desumano, que também violenta seus princípios, os remunera mal, comandados por cargos de natureza política e transitória, que mantém o sistema 100% do tempo como um barril de pólvora prestes a explodir.

5 jan
Aurelio
Cenas...
Triste: 22 corpos carbonizados a mais de 2000 graus, dentro de uma cela do Presídio Ary Franco (água santa), após um guarda haver atirado uma bomba de fósforo branco dentro da cela... Jamais esquecerei aquele cheiro de carne humana carbonizada... O que houve com o guarda?... boa pergunta! soube de uma sindicância e ouvi dizer que teria sido aposentado como maluco... simples assim.Hilária: Um guarda tinha o costume de após a visita, entrar na cela de um preso e, na maior folga, servir-se da comida que a visita do preso trazia... certa vez, o preso pegou alguns bifes crus, temperados, e untou-os com vaselina líquida... quando o guarda chegou, ele falou que a comida estava nas vasilhas, mas que os bifes tinha de fritar ainda... o tal guarda pegou um, acendeu o fogão elétrico, fritou, comeu... depois de alguns minutos ouvia-se os gritos do guarda, que passou várias horas no banheiro, digamos, com uma diarréia que dava dó.... nunca mais quis filar a bóia....

5 jan
Ariel
Aurelio
Certas atitudes dos tempos atuais, seriam inconcebíveis a alguns anos... vc escreveu esta frase que realmente é forte.Você poderia ser mais detalhista?dar exemplos disto?Há tempos vi um documentário dos USA que falava do crime organizado e do por quê este sumiu.No documentário falava que após a entrada do mercado das drogas ,as regras que regiam o crime mudaram definitivamente para sempre.Já ninguém tinha nada "assegurado" e por uns trocados um viciado matava as vezes um grande "chefão".Já não há mais escalas hierárquicas, e os traficantes usam do "vale tudo" pra se manter no poder,e mesmo assim morrem novos.Será que está mudança que vc se refere e por caus adas drogas?Ou é a mentalidade que mudou por outras razões?.

5 jan
Aurelio
Pois é Dogbert...
Mas ainda farei, pois agora a tal promotora não tem poder pra impedir...

5 jan
■ São Dogbert
Cabeça-dura dos bons, o Tio Sombra! Essa experiência de vida te trouxe maior determinação para atingir teus objetivos ou isso já fazia parte da tua personalidade?De maneira geral eu suponho que o efeito nos detentos seja o oposto: o tratamento oferecido ao detento pode ser descrito com mil palavras, mas "estimulante" não deve estar na lista. É comum que haja crises de depressão, de revolta, de impotência, ou os detentos tem mesmo que engolir isso se quiserem sobreviver naquele ambiente?

5 jan
Aurelio
Ariel...
Esse aspecto é um tanto impróprio para discussão, mas eu diria que não existia a "violência gratuita" a exemplo do que ocorreu em ataques a ônibus... mas se analisarmos um pouco com base em minha resposta anterior, o próprio Estado tem sua parcela de contribuição, na medida em que já deu exemplos no mesmo sentido contra presos...Como diria o saudoso Profeta Gentileza: Gentileza gera Gentileza... e com a violência não pode ser diferente...As drogas, em especial a cocaína, realmente acabou por influir perniciosamente não só no bandido comum, mas em toda a nossa sociedade, provocando mudanças radicais de comportamento, de valores e de princípios.Tanto no crime, como na sociedade em geral, vivemos atualmente mais em função do TER alguma coisa... do que do SER alguma coisa.

5 jan
Aurelio
Só pode...
Me fazer mal, aquilo que eu permito que me afete.Diante de uma tal adversidade, do universo à parte que é o cárcere, é preciso permanecer vivo, resistir... A maneira que encontrei foi dedicar meu tempo ao estudo, ao crescimento cultural, para que não tivesse passado em vão aquele tempo, improdutivo e vazio de minha vida. Sobreviver, a tudo, a todos... com dignidade e honra, sem precisar violentar os próprios princípios.Necessário entretanto, que a sociedade reflita, sobre o tratamernto que dá a seus presos, pois o tratamento digno e voltado para a reeducação e recuperação sempre poderá trazer benefícios à sociedade, pelo desejo e capacidade de mudança de vida que proporcionará...mas dos abusos de poder, da tortura e da violência, apenas resta a certeza de que "alguém pagará por isso..." e com certeza é a própria sociedade que a cada dia convive com uma realidade de violência crescente...

5 jan
■ São Dogbert
Mas e os outros detentos, em geral, como reagiam? Eu gostaria de saber se o ambiente é mais depressivo ou é mais revoltante. Se o sujeito se sente fragilizado ou se ele se enche de raiva para sobreviver. E de onde vem cada um destes estímulos, se da ação do Estado ou da pressão dos demais detentos.

Aurelio
Um bom começo...
Para reestruturar o sistema penitenciário, seria cumprir integralmente a LEP, no que diz respeito à Educação regular e profissionalizante.O trabalho, previsto como obrigatório (vedado apenas o de caráter forçado ou cruel), e sua remuneração (que além de possibilitar a manutenção dos gastos pessoais e ajuda aos familiares, pode auxiliar no retorno à liberdade) em condições de ser oferecido à totalidade dos internos de uma unidade, pois isso reduziria ou eliminaria a dependência econômica e o comprometimento com o tráfico por parte dos apenados.O apoio ao egresso, sobretudo nos dois primeiros meses de liberdade, desde a emissão de documentos até mesmo a questão de moradia e alimentação, além do acompanhamento e orientação para recolocação no mercado de trabalho.São medidas necessárias, assim como a individualização das penas, desde o início da execução e durante.Dar todas as condições para que se processe realmente a reeducação e recuperação e sobretudo a triagem permanente mediante avaliações, para que haja a separação gradual dos que tem potencial de recuperação.O Estado gasta uma verdadeira fortuna em serviços e bens produzidos por terceirizados e, com certeza muito poderia ser produzido por apenados, sem que isso comprometesse as cautelas de segurança.Deixar às VEPs apenas a apreciação dos casos de execução em que houvesse alguma controvérsia ou especificidade, e à propria Administração os casos de mero cumprimento de formalidades jurídicas na concessão de benefícios ou incidentes de execução também agilizaria todo o trâmite dos processos.Presença física nas Unidades de representantes do MP e da Defensoria Pública, com certeza coibiria os abusos e agilizaria com maior transparência as questões disciplinares.Nenhuma regalia ou favor é necessário, apenas o cumprimento estrito das leis vigentes, já seria um considerável avanço.

5 jan
■ São Dogbert
"O apoio ao egresso, sobretudo nos dois primeiros meses de liberdade, desde a emissão de documentos até mesmo a questão de moradia e alimentação, além do acompanhamento e orientação para recolocação no mercado de trabalho."O que achas da possibilidade de autorizar o egresso a dormir na cadeia por uns três a quatro meses após o cumprimento da pena, se ele desejar, para que ele receba pelo menos duas refeições diárias (café da manhã e janta) e tenha tempo de procurar um emprego e um teto onde ficar? Será que alguém ia querer?

5 jan
Aurelio
Dogbert...
De cada 10 presos, pelo menos 8 desconhecem o texto do próprio artigo que infringiram... e 9 jamais tiveram em mãos o Regulamento Penitenciário...É como se fossem punidos, sem a menor consciência real dos motivos, sem o menor entendimento daqueilo que realmente praticaram.O instinto de sobrevivência é o que lhes move, e o processo se completa pela despersonalização do indivíduo, a cada dia vivendo a rotina e o condicionamento improdutivo, quebrado vez por outra por uma rebelião ou greve, que a maioria nem sabe por que está participando.As prisões, nos moldes atuais se revelam completamente inúteis, pois os que se recuperam, não o fazem pelo que aprenderam na prisão, mas por vontade própria e apoio familiar, e os que reincidem, o fazem a despeito de qualquer tempo que passem presos da mesma maneira.Depresão ou Revolta são sentimentos que se alternam, da mesma forma que a Esperança e o sonho de Liberdade.

5 jan
Aurelio
Não funcionaria...
Teria de ser feito, conforme previsto na LEP, em Patronatos ou estabelecimentos do gênero, públicos ou privados, mas já sem contato algum com outros presos de regime fechado.Até porque, o preso que não tem direito de sair, faria comentários jocosos, e provocariam atritos com os que permanecessem.Penso que a progressão de regime é uma boa alternativa, de retorno gradual ao convívio, mas acredito que nelas a presença de guardas poderia ser substituída por técnicos que avaliassem o cumprimento das condições, sem tratar necessariamente como presos aqueles que saem diariamente para trabalhar na rua, sem escolta ou estudar, recolhendo-se à prisão à noite.A presença de guardas, com a mesma atitude dos de regime fechado e muitas vezes induzindo e estimulando as fugas, pelo tratamento dispensado, também é algo que atrapalha e muito esse processo.

5 jan
■ São Dogbert
Última pergunta de hoje:Tu não dormes, não? São quatro da matina, eu vou naninha! Boa noite!

5 jan
Aurelio
Entre uma coisa e outra...
Terminando de reinstalar o sistema em 2 micros para entregar pela manhã....Um prazer estar com vcs aqui e espero ter de alguma forma contribuído para esclarecer algumas dúvidas a respeito desse tema.Boa Noite Dogbert!! Abração!

5 jan
Anônimo
Foi difícil o retorno a vida comum?Sofreu discriminação?Eu vi cenas, ao vivo, há muito tempo atrás de uma rebelião, eu fiquei chocada pq eles pegaram um cara, batiam na cara dele, cutucavam com uma espécie de faca, porradas, humilhações. A transmição continuava, se as pessoas sofrem com o sistema carcerário, deviam temer os próprios presos tb?

5 jan
Daniel Rock
Vc já sofreu algum tipo de violencia lá...?Chegou a pensar em se matar diante das duras condições?

5 jan
Aurelio
Almah
Imagine a seguinte situação:Você sendo deixada numa cidade estranha, sem documentos, com a roupa do corpo, sem moradia, sem dinheiro, sem ter o que comer...A única referência/contato de que pode dispor, normalmente está ligada a atividades ilícitas...Seria difícil recomeçar?É exatamente assim que acontece com o apenado ao ser libertado. E por isso insisto tanto em que temos de repensar, tanto o sistema como o apoio ao egresso, pois nisso reside a mior parte das razões de reincidência imediata.No meu caso, ao ser libertado no RJ, vim para SP onde morava minha mãe (já falecida) e tive algum apoio no recomeço, mas a maioria perde todos os vínculos familiares durante o cumprimento de pena, sobretudo as de longa duração.Discriminação é algo que, sinceramente, não me afeta, pois os que pensam dessa maneira em nada acrescentam à minha vida e tampouco desejo que estejam próximos os que possuem uma mente tão tacanha, ao ponto de praticarem qualquer tipo de discriminação.Entendo e respeito que algumas pessoas, por desconhecimento e assustadas com a violência e com o preconceito reforçado pela mídia sensacionalista, tenham uma certa prevenção e e apreensão no trato com ex-presidiários, mas apesar disso, a vida segue seu curso e as atitudes falam mais alto.Tenho a honra de contar com a confiança, que jamais desmereci de um sem número de clientes e amigos, e não faço segredo do meu passado, por entender que faz parte de minha história e quem quiser gostar de mim, não poderá fazê-lo sobre uma base falsa ou omitindo o que passei.

5 jan
Aurelio
Daniel
Sofir sim, diversos tipos de violência, mas sempre por parte daqueles que deviam ser, em tese os exemplos de respeito às leis e de correção, ou seja, sempre por parte de alguns policiais e guardas que não tinham a exata noção de suas atribuições, e dos limites do poder de sua autoridade.Não, jamais cogitei em ser um desistente... isso é para os covardes, os que perderam a esperança e a fé na bondade do ser humano.

Aurelio
Almah
Complementando a sua resposta, durante as rebeliões, os que morrem ou sofrem violências por parte dos companheiros, pode ter certeza de que não é gratuita. Na maior parte das vezes, são delatores, ou estupradores, ou os que por atitudes inconsequentes, causaram a morte de outros companheiros. A prisão tem um código próprio de conduta e nada acontece por acaso. Como qualquer grupo social, tem lideranças, e tem julgamentos e sanções, e regras próprias de convivência, aceitas pelo grupo. É um universo à parte, com diferenças e semelhanças com o mundo livre.A alguns anos, um preso na Pen. Esmeraldino Bandeira, foi à Subsistência (espécie de almoxarifado ou despensa) e pediu ao guarda uma banana... o guarda respondeu de forma jocosa e agressiva e, por força do próprio código de conduta dos presos, não restou alternativa (sob pena de desmoralização perante o grupo) ao preso do que responder à altura ao tal guarda. Foi o bastante para iniciar-se um tumulto, com o guarda querendo agredir ao preso e disso resultou em um princípio de rebelião... daí todos os presos foram para um auditório (quadra coberta), e veio o Diretor, Chefe de Segurança e vários guardas para que se resolvesse a situação.Alguns presos tinham ingerido bebida alcoolica, feita pelos próprios presos em processo artesanal, e já estavam bêbados...Durante o pronunciamento do diretor, esses presos disseram palavras ofensivas e o Diretor encerrou ali a reunião, dirigindo-se à saída... ao passar no meio do grupo de internos, esses que estavam bêbados, acabaram por agarrar o Diretor e um deles roubou a carteira dele... resultado: A PM invadiu, matando um preso e ferindo dezenas de presos, tendo um ficado paraplégico inclusive...Passado o tumulto, os que agrediram o Diretor e causaram a morte do companheiro, e todo o risco ao coletivo, foram todos mortos, pelos próprios presos...

5 jan
dinho
Em algum momento voce sentiu medo?Se sim, no que pensava?Obrigado por estrar disposto a responder.

5 jan
ღMarianneஜ
Desculpe-me se a pergunta for boba mas nao tenho muita noção de como sao os presídios no Brasil. Tu tomavas banho de água quente?

5 jan
Anônimo
Eu nunca visitei um presidio, ainda é vexatório o sistema de revista aos visitantes?

5 jan
Anônimo
Quantos companheiros de cela vc tinha? Vc se converteu a alguma religião quando estava na prisão?

5 jan
Paula
Aurélio
Sua descrição dos presos me parece um pouco romântica. Pela descrição que você deu, fica parecendo que os presos têm uma conduta irrepreensível, vivem na mais perfeita harmonia e camaradagem entre si. Mas essa imagem conflita fortemente com outros relatos que já vi, inclusive do próprio Dr. Drauzio Varella, por meio do filme Carandiru...

5 jan
Aurelio
dinho...
Com certeza, o medo da covardia.. o medo da traição.. e muitos mais.Talvez a sensação mais forte de apreensão seja quando fui transferido para a Ilha Grande... A primeira visão, do alto do morro, e a sensação de não saber se sairia de lá vivo...

5 jan
Aurelio
Marianne
Passei por diversas unidades e, entre elas, teve as que para tomar banho somente com um balde e uma caneca, até as que tinha meu próprio chuveiro quente (que o Estado não fornece, mas permite a entrada em muitas unidades).

5 jan
Aurelio
Almah
Sim, ainda é um tanto vexatório, principalmente às mulheres, não importando a idade. São obrigadas a tirar a roupa, agachar...A revista dessa maneira é devido a algumas mulheres entrarem com drogas introduzidas dentro do corpo.

5 jan
Aurelio
Mary...
Como dito anteriormente, passei por diversas unidades, e estive em varios tipos de celas, tanto individuais como coletivas.Na Ilha Grande, estive numa cela coletiva, com 8 camas comuns, de madeira, relativamente espaçosa, com um banheiro com vaso sanitário e chuveiro, num canto da cela tínhamos uma mesa com um fogão a gás de 2 bocas (lá era permitido). Tínhamos inclusive a opção de pegar na subsistência oos mantimentos referentes à nossa alimentação crus, para nós mesmo cozinhar, ou pegar a refeição pronta no refeitório.Na Água Santa, numa cela de uns 4 x 5 m apenas forrada de cobertores e lençóis, cheguei a ficar com 38 companheiros, com o banheiro do tipo buraco no chão (boi) no canto da cela, banho somente de balde e caneca...Em Bangu 3, celas para 4 presos, beliches de concreto, baheirotipo boi, chuveiro frio, e água aberta apenas 3 x por dia, em intervalos de 15 minutos apenas (até a água para beber tinha de ser recolhida nesse tempo e armazenada em garrafas pet ou baldes).Na Milton Dias Moreira tinha cela individual arrumada ao meu gosto e possibilidades, com chuveiro quente, fogão elétrico, tv, uma cama que eu mesmo fiz na marcenaria onde trabalhava, etc.

Aurelio
Paula...
O relatado pelo Dr Drauzio Varela, se refere ao sistema prisional de São Paulo, em especial ao Carandirú e, não deixa de ser próximo da realidade de SP, embora não deixe tb de ter sido um tanto romanceado...O que me refiro é ao sistema do RJ, onde a separação de facções de fato existe, ou seja, normalmente se tem presos de um mesmo grupo apenas em uma unidade prisional ou em parte dela, portanto a convivência se dá mais pacificamente.Por exemplo, uma grande diferença é que dentro do CV não pe permitido que todos tenham suas próprias facas ou armas, nem tampouco que circulem com elas. existem, mas ficam guardadas e apenas alguns tem autorização de usa-las, em ocasiões específicas. Isso foi feito para evitar que por qualquer desavença, pudesse resultar mortes. Já em SP sempre foi mais cada um por si, e diversos grupos misturados dentro da mesma unidade. Hoje em dia, pelo que se pode perceber, mesmo lá essa realidade está mudando para um sistema mais próximo ao do RJ, embora não exista um paralelo definido entre o tipo de facção de SP e do RJ.A diferença entre a minha visão e a do Dr. Drauzio Varela, em que pese a sua autoridade para falar sobre o assunto, é que a visão dele por mais profunda que possa parecer, é bastante superficial, posto que da condição de médico, de funcionário, em relação à minha, que vivi na condição de preso tais experiências.Da mesma forma que não posso discorrer com propriedade sobre o treinamento de um guarda, também este não pode fazê-lo sobre o código de conduta válido entre os presos...

5 jan
Aurelio
Ainda à Paula...
Da mesma forma que existe um grande individualismo, que cada um trata de si lá dentro, o espírito de coletivo, de união e de solidariedade também se manifesta, curiosamente, inversamente proporcional à carga de sofrimento que suporta o preso em cada unidade.Trocando em miúdos: Na Ilha Grande, afastados de tudo e de todos, onde desde a carência afetiva à carencia material eram uma realidade, havia um companheirismo e uma solidariedade entre os presos, que em nenhuma outra unidade melhor eu pude presenciar, embora fossem os mesmos presos, transferidos de lá, por exemplo.O sofrimento une mais do que qualquer outra coisa.

6 jan
Lincoln
Aurelio
Boa noite,um amigo meu de infância ficou preso mais ou menos seis anos.Quando ele saiu,sua postura e conduta em relação as outras pessoas mudaram de uma maneira bem perceptível.Ele se tornou mais atencioso e carinhoso com as pessoas,sempre abraçava algum conhecido quando encontrava.Enfim,ele teve uma mudança no lado emocional,ficou mais próximo das pessoas.Mas também conheço outro ex-presidiário,que mudou de forma contrária.Ele se tornou muito desconfiado,não falava com quase ninguém,e praticamente não saía de casa...Gostaria de fazer algumas perguntas:1)Você mudou de alguma sua postura e conduta com as outras pessoas depois que saiu?2)Eu ja soube de casos de presidiários com problemas psiquiátricos convivendo com os demais.Você conviveu ou viu um caso desse enquanto esteve preso?3)Dentro de um "infermo" que é uma cadeia,você teve algum amigo de verdade la dentro?Obs:Não sei se aprimeira pergunta é muito pessoal,se não quiser responder,será perfeitamente compreensível.

6 jan
Lincoln
*alguma forma(primeira pergunta)

6 jan
Aurelio
Lincoln
Ninguem passa por uma prisão sem que isso o afete de alguma maneira. Com certeza valores que nos passam despercebidos no dia-a-dia, se percebe uma maior importância, pela sua ausência... da mesma forma, a vida na prisão se dá em um estado de alerta constante, quase tendo que "dormir com um olho aberto"... e logicamente leva um tempo para que se relaxe ao chegar em liberdade.Para que tenhas uma idéia exata, quase agredi a minha companheira, na primeira vez que dormimos juntos em liberdade e ela me abraçou por trás enquanto eu dormia.... reação instintiva.A família e os amigos com certeza tem um valor maior, mas também se adquire a certeza de que traição é prerrogativa de amigo, ou de quem nos é próximo... não dos que consideramos inimigos... ou desafetos. Confiar desconfiando é algo que se leva muito tempo para esquecer.Sim, convivi com diversos apenados que tinham problemas psiquiátricos. O caso mais pitoresco foi um de apelido "Federal", que conheci na Ilha Grande, que, quando estava normal, demonstrava uma cultura e uma consciência política apurada, mas quando estava "atacado" pulava o muro sob rajadas de metralhadora, dava a volta na cadeia e batia na porta da frente para entrar... Curiosamente, jamais vi se dirigir de forma agressiva a qualquer companheiro ou visitante, e era querido por todos.Sim, tive amigos de verdade que conheci lá dentro, não só presos, mas um guarda também, a quem devo em grande parte a minha mudança de rumo na vida, e hoje é um grande amigo pessoal. Uma pessoa a quem admiro por sua integridade e por sua postura profissional, jamais exorbitando de suas funções e não cedendo à corrupção.Tenho o orgulho de ter influído também ativamente, para que outros, como eu tivessem buscado outros rumos, e hoje vivam uma vida honesta e totalmente afastados do crime.

6 jan
Anônimo
Aurelio
Existe apadrinhamento nos presídios?

6 jan
Aurelio
Almah
Defina em que sentido esse "apadrinhamento", por favor.

6 jan
dinho
Algo em sua vida mudou, fez com que voce quebrace seu proprios limites, inclusive o medo, voce lembra em que momento se sentiu, de certa forma, que viveria para contar toda essa historia?

6 jan
Aurelio
dinho...
Mudar... claro que mudou, pois hoje sigo por rumos diferentes dos que me conduziram àquela experiência.O momento... da certeza de que sobreviveria para contar a história? O da Liberdade, quando pus os pés definitivamente do lado de fora do portão de saída...Antes, sempre houve a esperança e a luta para atingir a Liberdade, a consciência de fazer jus ao direito, mas jamais a certeza de conseguir o objetivo.

6 jan
ღMarianneஜ
Aurélio
Obrigada por me responderes. Uau, estou muito emocionada com teu relato. Muito mesmo. Te admiro demais por ter dado a volta por cima e ter se reintegrado à sociedade. Feliz de ti que tivestes a oportunidade de chegar a uma encruzilhada e decidir mudar o teucaminho. Que muitos outros consigam seguir teu exemplo!

6 jan
ღMarianneஜ
Muito interessante:
O caso mais pitoresco foi um de apelido "Federal", que conheci na Ilha Grande, que, quando estava normal, demonstrava uma cultura e uma consciência política apurada, mas quando estava "atacado" pulava o muro sob rajadas de metralhadora, dava a volta na cadeia e batia na porta da frente para entrar... Curiosamente, jamais vi se dirigir de forma agressiva a qualquer companheiro ou visitante, e era querido por todos.Nao sei se é verdade ou mesmo relevante mas dizem que muitos criminosos tem QI altíssimo!

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Midnight Express
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6 jan
Anônimo
Aurelio
Apadrinhamentos... ter um padrinho prá te proteger lá dentro, dos outros presos, dos guardas..

7 jan
Aurelio
Almah...
Apadrinhamento propriamente dito não acontece, pelo menos não como nos filmes que assistimos na tv...É claro que o fato de ser de alguma quadrilha ou ser integrante de alguma boca de fumo, gera alguns benefícios, sobretudo o que chamamos de cobertura, ou seja, os que estão presos recebem alguma ajuda, seja em dinheiro ou mesmo uma quantidade de drogas, semanal, para que possa manter-se e ajudar sua família.Isso não impede, enretanto que cometendo algum erro na prisão, seja cobrado como qualquer outro que não tenha essa condição.Até já presenciei casos em que algum preso de família rica, de certa maneira meio que comprava uma maior consideração, seja distribuindo drigas, ou até mesmo contribuindo para algo em favor do coletivo... mas de maneira geral "apadrinhamento" no sentido estrito do termo não existe.

7 jan
Aurelio
Marianne...
Pode parecer estranho, mas eu também percebí uma característica marcante em grande parcela dos presos com os quais convivi. Muitos de fato, tem uma inteligência e/ou habilidades acima da média, porém, em minha opinião, são pessoas que não tiveram paci~encia suficiente para começarem por baixo até atingir por sua capacidade o status que desejavam, e o crime pareceu-lhes um caminho mais direto e mais rápido para desfrutarem do que achavam merecer.Também atribuo a isso uma boa parcela dos motivos que me levaram a delinquir, ou seja, tive uma boa educação, uma boa formação moral, entretanto não tive o discernimento e a paciência para lutar e galgar pouco a pouco a ascensão social que pretendi e, esse imediatismo encontrei no crime, só percebendo que o preço a pagar era de fato muito alto depois que literalmente "a casa caiu"... tomar consciência disso e buscar um outro caminho, entretanto, é por demais difícil, quase impossível sem que haja um apoio e, justamente nesse aspecto que o sistema é falho, que a nossa sociedade por desconhecimento de uns e má fé de outros deixa de cobrar o cumprimento das Leis, e sofre as consequências tanto quanto os que acabam por reincidir por absoluta falta de opções.

7 jan
Aurelio
Convite
Tomo a liberdade de conviodar a todos vcs a conhecerem e a participar da Comunidade da qual sou moderador:Ressocialização e D. Humanoshttp://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=6755552Lá, o critério de moderação básico é o de admitir a liberdade de opiniões e as divergências, sendo vedado apenas a troca de ofensas pessoais.Será um prazer recebê-los.

7 jan
Anônimo
Ei cara ao menos tu estás vivo né, afinal errar todo mundo erra. O ruim é o preconceito, e sei como é, nunca fui preso, mas minha profissão sofre muitos preconceitos de todos os tipos. [off-topic] Vida de físico é f***.[/off-topic]

7 jan
Aurelio
Preconceito
Afeta mais quem o pratica, do que a própria vítima...

7 jan
Anônimo
Na época que esteve preso não havia o Regime Diferenciado, igual ao que é aplicado ao Marcola?

8 jan
Aurelio
Almah...
O RDD passou a vigorar depois que saí. Havia apenas as unidades de segurança máxima, como Bangu I, II, III na época. Destas, estive em Bangu III apenas.
8 jan
Zé Alguém
Aurélio,
Fale-nos das religiões que invadem os presídios para disputarem "almas!" É positivo ou negativo? Como os presos lidam com esta questão?
Anônimo
Aurelio
Como era a chegada de algum novo detento?Existia algum "batismo" ou solidariedade,maus tratos,etc dos detentos mais antigos perante ao que está chegando na cela?abraço.

9 jan
Aurelio
Zé Alguém...
Os diversos grupos religiosos, atuam de uma maneira bastante positiva, embora cada um foque suas ações em pontos específicos:Igreja Católica, além das missas, tem um trabalho organizado através das Pastorais Penais, inclusive com assistencia jurídica, e apoio ao egresso na obtenção de documentos e até de colocação profissional.Evangélicos, além do trabalho de evangelização, também trata da questão de assistência material, com roupas, material de higiene, etc.Espíritas Kardecistas, seguem a mesma linha dos evangélicos, ou seja, além do trabalho espiritual e de evangelização, também procuram auxiliar os mais carentes.Em relação à forma encarada pelos apenados, temos atitudes variadas, desde aqueles que realmente frequentam em busca do apoio espiritual ou conversão, mas também os que procuram por conta de apoio material, ou para tentar obter uma certa proteção ou ser deixado de lado (não é raro encontrarmos estupradores com a bíblia embaixo do braço, para evitar de sofrer represálias por parte dos outros presos, como se a crença fosse um escudo, que às vezes funciona, outras não).

9 jan
Aurelio
Roberto...
Hoje em dia isso não ocorre mais, mas a alguns anos era bem característico. Na chegada, invariavelmente, o novato acabava por ser provocado, e tinha de tomar uma atitude, partir pra briga, mesmo que perdesse, pois o importante era ter reagido... e quem não reagia, acabava por ser subjugado e muitos se tornaram homossexuais assim nas prisões. Eera um tempo difícil, onde se tinha de brigar muito, e mesmo assim existia muita covardia, com quadrilhinhas oprimindo os mais fracos. Hj em dia isso faz parte de um passado, que custou derramamento de sangue para mudar.É claro que ainda existem casos isolados, em delegacias, e não posso afirmar que em outros estados seja desta ou daquela maneira. Minhas opiniões e afirmações se referem basicamente ao sistema prisional do RJ, que foi o que conheci de fato.

9 jan
Anônimo
obrigado pela resposta,aurelio, mais uma pergunta....rolou isso com você e qual foi sua sensação na hora?

9 jan
Aurelio
A sensação?
Sim, eu cheguei na prisão ainda no tempo anterior. A mesma que vc ou qualquer um teria... Ou brigo.. ou vou ter de aguentar o peso de um sujeito em cima de mim.... simples assim.PS. Antes que pergunte: Briguei e muito!!

9 jan
Anônimo
brigou e venceu! parabéns meu caro!

9 jan
Anônimo
Qual era a tua rotina diária?As vezes sentiu que ia enlouquecer? O que fez prá poder manter tua identidade consigo mesmo?

9 jan
Zé Alguém
Caro Aurélio,
Grato pela resposta.Quero saber de vc: Precisou de uma religião que lhe ajudasse na sua parte espiritual ou vc não deu ou não dá importância as religiões?

9 jan
ღMarianneஜ
Como que tu brigastes? Sabes alguma arte marcial ou foi na porrada, soco e pontapés? Quebrastes algum osso ou dente?

9 jan
Anônimo
A visita íntima é feito algum preparativo antes?(ex: local, horário).- Quais eram as punições mais constantes?- Vc estudou - te admiro por isso -, abriu mais os leques de possibilidades de entender teu processo? pesquisou?- Saiu no pau com os outros presos, isso te dava respeito?
9 jan
Vera Lucia
estou chegando agora.
Estava lendo tudo com muito interesse, posso ter me dispersado na leitura que é muito extensa.Lógicamente, com uma história dessas, não dá pra não ter curiosidade.Gostaria de saber: como vc. foi preso? Em que circustâncias? Provavemente vc. não agia sózinho.., e como foi com os outros tb?Vc. disse que tinha esquema com o PIS. houve intervenção ?

10 jan
Aurelio
Almah...
A Rotina varia de unidade para unidade... Na Pen. Milton Dias Moreira, onde fiquei mais tempo, acordava umas 7 hs +/-, ligava meu fogão elétrico (uma resistência de fogão montada em um tijolo escavado), fervia uma água e coava um café... ligava o rádio e ouvia o Jornal da Rádio Nacional, até as 8 hs, quando vinham os guardas fazer o "confere" (contagem dos presos). A galeria tinha 40 celas individuais que permaneciam abertas e, na entrada da galeria uma "cortina de ferro" (grade e porta) que ficava trancada à noite. Após a contagem, o guarda voltava a trancar a cortina e ia para outra galeria... até contarem todos os presos, aí havia a passagem de serviço de um plantão para outro e após isso, se não faltasse ninguém, abriam as cortinas, para os presos descerem para tomar café.Após o café, dirigia-me à marcenaria, onde eu era encarregado, e permanecia lá até a hora do almoço, umas 11:30 hs. Ia para minha cela, fazia um lanche e ligava minha tv para assistir ao programa Vestibulando, na TVE até 13 hs, quando voltava à marcenaria e permanecia até às 17 hs. Tomava um banho para tirar o pó de serra...Nesse horário é servida a janta, e então eu e mais uns 3 amigos íamos ao refeitório e pegávamos nossas porções em vasilhas separadas (4 conchas de feijão em uma, 4 de arroz em outra, 4 pedaços de carne, ou frango ou linguiça(o que tivesse) e íamos para minha cela, onde retemperavamos o feijão, preparavamos uma omelete ou algo assim, com o que comprávamos na cantina ou visitantes traziam, e preparávamos nossa refeição um pouco melhorada em relação à servida no refeitório.às 17:30 / 18 hs as galerias eram trancadas (as cortinas) e apartir daí permaneciamos na galeria, uns assistindo tv, no meu caso estudando nos livros que comprei ou obtive por doações de cursinhos e consulados para os quais escrevi pedindo, me preparando para as provas do supletivo de 2º Grau (Ensino Médio) que são realizadas 2 vezes por ano nas mesmas datas do mundo livre, e depois parta os Vestibulares que participei e fui aprovado em 5 deles.

10 jan
Aurelio
Almah... (continuação)
Essa a rotina de segunda a sexta, nos dias de visita (sábado e domingo) naão tinha o expediente da marcenaria, mas eu tinha uma banca onde vendia artesanato e brinquedos que eu fazia e com isso me sustentava na prisão.A visita de pátio era das 13 às 17 hsDomingo, tinha ainda a visita íntima, com minha companheira, quando ela podia ir para minha cela individual e passar o dia comigo. Na visita íntima ela entrava 10 hs e saí as 17 hs.

10 jan
Aurelio
Zé Alguém...
Sou católico por batismo, e também simpatizo muito com a doutrina espírita Kardecista, por achá-la muito próxima das minhas convicções, entretanto não posso me declarar praticante de nenhuma religião. Acredito mais em prática do bem e da solidariedade ao próximo do que nas meras palavras de louvor sem ações que as corroborem...Conversar com Deus não significa necessariamente ter de frequentar igrejas, seitas ou o que quer que seja, em minha opinião.Praticar o Cristianismo é muito mais do que repetir meia dúzia de aleluias e sair falando mal do próximo ou vendo traves nos olhos dos outros sem ver as dos nossos próprios olhos.

10 jan
Aurelio
Marianne...
Fui militar,paraquedista, e tenho alguma noção de defesa e ataque, mas nada que possa fazer de mim um expert em nenhuma arte marcial.Instinto de sobrevivência e atitude contaram mais.Não me machuquei sériamente e tive poucos atritos, apenas em Delegacias logo no início.Tive mais prejuízo com os espancamentos sofridos por parte de policiais, que me deixaram algumas sequelas no pulmão.

10 jan
Aurelio
Almah...
A visita íntima, também varia de unidade para unidade, pois em algumas é realizada na própria cela individual do apenado, como na Milton Dias Moreira, em outras existem galerias somente reservadas para isso, como em Bangu 3.Em todas, entretanto, existe por parte dos apenados um cuidado especial com a higienização tanto das galerias como das celas, promovendo-se a lavagem, aplicação de desinfetantes, etc. Isso é feito em todos os locais onde os visitantes têm acesso com especial atenção, principalmente pelo fato de que nossos filhos também têm acesso aos pátios e até transitam por algumas unidades, e uma prisão é sempre um ambiente um tanto insalubre, propenso a doenças e infecções.Punições mais frequentes nas prisões, oficialmente temos a suspensão de visitas, isolamento em cela trancada, rebaixamento de comportamento (que impede a concessão de benefícios e até de visita íntima), transferências para unidades castigo... e extra oficialmente, espancamentos diversos...com certeza a mais frequente delas todas.Sim.. estudar me permitiu entender e lutar para mudar a realidade em que vivi. O que me fez refletir,mais profundam,ente, foi a aprtir do contato com livros de Filosofia, desde "O Mundo de Sofia" por exemplo. Creio que devia ser leitura obrigatória nas escolas, desde o ensino fundamental.Manter minha identidade e a lucidez, credito isso ao trabalho e ao estudo, que me permitiram fazer daquele tempo, não um tempo perdido de minha vida, mas um tempo de crescimento e produtivo. Consegui, de fato, deixar de ser passageiro, para ser o condutor do meu próprio destino a partir do momento em que descobri no estudo uma porta de saída.

10 jan
Aurelio
Vera Lúcia...
Fui preso em flagrante a primeira vez e recapturado depois de fugir.Sim, agia com mais pessoas, mas não tenho co-reus em meus processos, pois não entreguei nenhum deles. Assumi sozinho.

10 jan
Fernando
voltaria a cometer crimes se tivesse condições?ñ precisa responder se ñ quiser.

10 jan
Fernando
mais uma perguntinha
lembro de ter escutado em alguma musica a frase"O crime ñ compensa"pra vc q ja cometeu diga pra genteo crime compensa ou ñ?

10 jan
Aurelio
Fernando...
Condições de cometer ou não todos têm... eu, você ou qualquer um.Não o faço mais não por falta de condições, pois até tenho mais condições e conhecimento agora do que tinha antes, mas por opção mesmo.Compensar é tão relativo... depende do que cada um chama de compensar.Vivi experiências diversas, boas e más, e todas compõem o que sou hoje, portanto creio que nesse sentido compensou sim, pelo que pude adquirir de experiência e de crescimento como pessoa.Materialmente falando, o que ganhei, eu mesmo gastei e, portanto não há o que lamentar pelas perdas nem tampouco o que vangloriar-me pelos ganhos.O que tenho hoje é tudo fruto do meu trabalho e, mesmo não sendo muito, garante o meu sustento.

10 jan
Anônimo
Aurelio
Obrigada por tua atenção e pelas respostas. Te desejo muita sorte pelo teu caminho, novas conquistas, que o passado tenha sido mais uma página que passou, aprendeu e te reformulou.Felicidades!!!

10 jan
Aurelio
Obrigado Almah...
Por suas palavras e pode acreditar que foi um prazer esclarecer algumas dúvidas a respeito do assunto, pois acredito que o conhecimento da realidade confrontada com o que vemos apenas pelo sensacionalismo da mídia, pode realmente influir para a mudança efetiva da maneira como são tratadas as questões de reeducação e recuperação de apenados.O que procuro demonstrar claramente é que, apensar do interesse meu e de muitos dos que lá deixei, inexiste qualquer tipo de apoio nesse sentido e apenas se ouve dizer da irrecuperabilidade, da violência e de todos os aspectos de fato perniciosos, sem entretanto considerar que nada é feito para mudar essa realidade, apesar de tudo estar previsto em nossa legislação e de ser um anseio da sociedade a diminuição dos índices de violência e de reincidência observados no sistema penal.É uma honra tê-los como amigos, ainda que virtuais.

10 jan
Zé Alguém
Aurélio
Gostei muito da sua resposta sobre religião.Fui educado na Católica e penso quase igual a vc.Não simpatizo com nenhuma; fiz a minha religião, egoisticamente, falando. VIVER O BEM E FAZÊ-LO! Obrigado!

10 jan
Aurelio
Religião...
De fato é algo muito pessoal a interpretação que cada um faz. Desde que orientada para o bem e para a solidariedade ao próximo, acredito que todas sejam válidas.
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Carandiru

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10 jan
Daniel Rock
Como os presidiários gays e transsexuais são tratados, seja pela autoridade, seja pelos outros presos?

10 jan
Andrea
Aurélio,
Eu sei que já te disse isso, mas você É O CARA!!! Tô aqui, atrasada pra um monte de coisas, mas paralizada nos teus relatos que, mais que uma lição de vida a todos nós, vai como um tapa na cara dos que pregam o simples extermínio de todo o contingente carcerário. Mas... você falou aí da tal Promotora que disse que Direito não seria adequado a um apenado... Meu Deus! E pra ser o que ela é, foi preciso estudar e fazer um concurso! Bem! Num outro momento você disse que deveria haver maior presença do MP nas unidades prisionais. Na prática, o que temos visto é que o MP, ao menos no Rio, não mudou muito desde a tal Promotora citada. A título de exemplo, te relembro a história da Promotora que analisou o caso de um dos integrantes dos Missionários, e que disse que, apesar de muito sensibilizada com a história, daria parecer contrário à progressão, porque se desse neste caso, teria que dar nos casos de criminosos convictos. E afirmou que o MP é contrário, por princípio, à concessão de progressão de regime em casos de crimes hediondos, mesmo depois do cumprimento de 2/3 da pena, não importando se o interno trabalhe, estude, e etc. Será que a proximidade do MP agilizaria os Processos e daria maior transparência aos procedimentos disciplinares, ou acabaria por se transformar em mais um braço a recrudescer o Sistema? Quer dizer, nos casos de crimes menores, muito provavelmente faria positiva diferença, mas nos casos envolvendo crimes hediondos, será que não viria a fortalecer a mão de ferro dos diretores?Falando nisso, você também disse que deveria ser deixado por conta da Administração Penitenciária os casos de mero cumprimento de formalidades jurídicas na concessão de benefícios ou incidentes de execução. Conhecendo a realidade prisional como você conhece, seria prudente aumentar o poder da administração penitenciária?

10 jan
Aurelio
Andrea...
Todas as imensas irregularidades, interpretações distorcidas da LEP, desvios de conduta tanto da Administração Penitenciária como do próprio MP, que em tese deveria zelar e fiscalizar o bom cumprimento das Leis e da Justiça e não ser mero acusador como em muitos casos, tudo isso se deve não às Leis, ou às Instituições, ou aos Órgãos, ou mesmo é inerente às funções exercidas.. ao contrário, isso é fruto do despreparo, da má fé, da sandice ou qualquer outra denominação que se dê, mas de cada indivíduo que exerce essas funções.Penso que um MP atuante e voltado para a sua função originária, pode e deve atuar como fiscalizador não amarrado pela hierarquia funcional, nas Unidades, ao lado de representantes da Defensoria Pública.Quanto ao maior poder à Administração, não vejo impecilho, desde que acompanhado pelo MP e Defensoria Pública, que avaliariam os casos em que fosse necessária a avaliação mais aprofundada pelo Juízo da VEP. Isso seria verdadeiramente desburocratizar os casos em que fossem mero cumprimento de formalidades, como casos de bom comportamento, tempo suficiente cumprido e nada que pudesse ensejar dúvidas ou controvérsias e, que apenas tomam tempo e espaço na VEP, já sobrecarregada, que deixa de julgar os casos realmente controversos em tempo hábil.Claro que o sucesso de tais medidas, depende principalmente das pessoas que exercem tais cargos estarem devidamente preparadas para tal exercício...

11 jan
Zé Alguém
Aurélio
História é o estudo do passado para entermos o presente e não cometermos erros no futuro. Assim também deveria ser a vida de todos nós!PERGUNTO:O que acha da nossos políticos? Merecem ou não uma peninteciária só p/ eles, os corruptos? Que exemplos passam p/ os peninteciados como tbm para toda a Nação?

11 jan
Aurelio
Daniel Rock
Primeiro, desculpe a demora em responder.. mas tive trabalho externo a fazer e só retornei hj.Quanto à sua pergunta, é talvez a mais controversa de todas, pois é preciso que se considere que o cárcere é um universo à parte, como falei anteriormente, e tem códigos e regras de conduta próprios, que não se aplicam ao mundo livre.Apesar de, no mundo livre, a tendência ser cada vez maior no sentido da ausência de preconceitos de qualquer natureza, em especial as que consideram a orientação sexual de cada um, no cárcere isso é muito diferente:Para exemplificar, por exemplo, não é admitido pelos apenados, que homossexuais bebam no mesmo copo, ou que fumem um baseado, junto com heteros.. seus copos e pratos são separados, se tiverem de fumar junto, todos fumarão e, somente depois, será passado para ele, que não devolverá mais a um hetero.Normal que fiquem em celas separadas em algumas unidades, e jamais poderá afrontar a um hetero numa discussão.Quem descumpre isso, e tendo conhecimento da condição homossexual do outro, sendo hetero, compromete a sua moral perante o grupo...podendo sofrer represálias ou ser de certa forma também discriminado... e quem descumpre isso sendo homossexual, pode sofrer represálias.É um tanto estranho, e de certa maneira ilógico, mas é assim que é lá dentro e todos respeitam.Digo ilógico, pois no mundo livre, ninguém chega em um bar e pede pra beber em um copo que não seja de uso de homossexuais.Quem, sendo homossexual, esconde essa condição e participa de tudo junto com os heteros, e têm posteriormente sua condição revelada, pode perder até a vida.Como cidadão livre, acho isso um absurdo também e sou contrário a todas as formas de discriminação porém, enquanto preso, sempre respeitei também esse código de conduta próprio do meio.Em relação aos guardas, cada um tem sua maneira de encarar e, da mesma maneira que existem os que tratam com dignidade, existem os que se prestam a humilhações e agressões gratuitas, independente da orientação sexual.

11 jan
Aurelio
Em relação à política...
Acredito na democracia e lamento que não a tenhamos de fato em nosso país, até porque a temos apenas em teoria e de certa maneira elitizada.Não a temos completamente, pois não temos 100% dos brasileiros participando, opinando, e tendo seus representantes.Elitizada pela questão cultural, pela falta de esclarecimento à população do que significa de fato o exercício do voto, no sentido de fazer seu representante, e não apenas escolher o melhor discurso, independente de conhecer ou não sua região e problemas específicos.Sou absolutamente contra a afronta ao proncípio constitucional da igualdade perante as lei, que se pratica mediante as imunidades parlamentares, pois estas deveriam ficar restritas à questão ideológica e à manifestação de sua opinião enquanto parlamentar, para resguardá-los de virem a ser presos em razão de seu posicionamento político... mas estender o manto da imunidade aos crimes comuns, à corrupção, ao roubo descarado com que procedem... é um tanto demais para o meu entendimento.Se alguém for preso em razão de sua ideologia política, de seu posicionamento político, seria o primeiro a levantar-me em sua defesa.Ao que se aproveita do cargo para cometer crimes comuns ou para se manter impune, acho absurdo e surreal. Estes, nenhum privilégio deveriam ter, pois são criminosos comuns e até mais abjetos, pois praticam seus crimes abusando da confiança de milhares de pessoas, e com consequências muitas vezes maiores do que as causadas pelos criminosos comuns, apesar de não se utilizarem da violência direta, mas de outra, mais insidiosa e cruel, à sombra das próprias leis.

Zé Alguém
Aurélio
Valeu pela resposta!Parabéns!Abs

13 jan
Aurelio
Obrigado!
Agradeço o elogio.

21 jan
Davi II
Aurélio
Eu já tinha respeito por você ao ler seus posts em outras comunidades e mais agora que estou tendo a oportunidade de conhecer a vc e a sua experiencia por este tópico (existe vida inteligente no orkut).Quero fazer uma única pergunta:Como foi pisar na calçada do presidio após sua libertação?

22 jan
Aurelio
Davi II
Incomparável a sensação de Liberdade... um alívio tão grande, a certeza de ter sobrevivido a tudo e a todos.... mas, acima de tudo, a sensação de que aquele era o primeiro momento do resto de minha vida... que não era o fim, mas um recomeço!!!

22 jan
Pescador
Além das religiões, existiam outros mecanismos (mesmo pessoas e órgãos não governamentais) que buscavam auxiliar os presos em determinadas áreas? Se sim, como ficava a liberdade de ação? Eram limitados? Apoiados? Excluídos? Levando em consideração a relação destes com a administração do governo e do presídio, basicamente.A pergunta está muito redundante, então ficaria feliz com apenas um exemplo.Outra. Li o tópico de uma vez só, posso ter perdido a resposta em algum post. Se for o caso, pode ignorar.

22 jan
Aurelio
Pescador...
Além dos Grupos Religiosos, principalmente Evangélicos, Católicos e Kardecistas, durante o período em que estive no cárcere apenas pude observar ações na área de Assistência Jurídica, que algumas Faculdades prestam através de Escritório Modêlo onde seus estagiários praticam.Da parte do Governo, a atuação esporádica (geralmente após alguma greve ou rebelião, durante algum tempo) da Defensoria Pública vindo às unidades prisionais para agilizar algums processos, resolver problemas como o de presos que permanecem presos mesmo após ter pago completamente a pena, por erro ou descaso do sistema e da Justiça, e que são casos colocados em pauta durante as negociações de fim de greve ou rebelião.Da parte da Secretaria de Educação, temos a realização das provas dos Exames de Suplência de Ensino Fundamental e Médio, e algumas Universidades realizam seus vestibulares tb, com isenção de taxas para os apenados (a maioria).Eventualmente, Palestras de Grupos como o GAPA e outros, sobre prevenção e tratamento de AIDS, também são realizadas.Caso à parte, que não participei diretamente, mas tenho tido notícias é o das Unidades sob gestão da APAC, uma entidade não governamental, surgida da participação popular, da igreja e do empresariado, e até onde sei, tem se revelado uma iniciativa de ótimos resultados.Fora disso, temos na questão do trabalho, uma ou outra empresa que monta oficinas nas prisões e ocupa mão-de-obra do apenado, embora no RJ isso esteja atrelado à Fundação Santa Cabrini (que detém monopólio sobre a mão de obra do apenado) e cujo modelo de gestão se revela prejudicial e ineficiente ao fim a que se destina.

3 fev
Anônimo
Aurélio
Tudo o que você fala um cidadão comum está cansado de saber.Tão cansado que parece as vezes desistir.Mas temos que continuar repetindo que Deus não julga e entrega o castigo para o Diabo.A correção tem de começar nos princípios e valores.Agradeço muitíssimoas pessoas que participaram com suas colocações.E principalmente você por compartilhar sua experiência.Quando lançar o livro(espero que seja logo)avise.Forte abraço

6 fev
Aurelio
JLP Benites
O ponto base de minhas afirmações e princípios, é o de que existe uma grande necessidade de reafirmar os valores e princípios, sobretudo morais de nossa sociedade, e quando digo isso não estou me referindo a um falso moralismo, ou de tolher liberdades duramente conquistadas.O Estado e a Sociedade tem todo o direito de exigir rigor no trato com o crime, de clamar contra a impunidade... mas esses direitos têm, necessáriamente duas vias, ou seja, é impossível cobrar aquilo que não se pratica...É preciso que o Estado e seus representantes ajam dentro do estrito cumprimento (INTEGRAL) das leis, sem desvios, cobrando deveres na mesma proporção em que respeitam direitos, se de fato pretendemos algum dia chegar ao estado ideal de tornar possível a recuperação e reeducação de apenados e a sua consequente reinserção social.A Sociedade, da qual todos participamos, tem sim responsabilidade tanto nas ações, como também quanto às omissões com que age direta ou indiretamente.Já não existe a desculpa da falta de informação, da falta de acesso, da falta de cultura... falta, na verdade, é participação, é consciência, e sem querer parecer ofensivo, falta também um tantinho de vergonha na cara, daqueles que teimam em perpetuar no poder pessoas que já mostraram cabalmente não possuírem condições morais para exercê-lo.O hiato político das gerações pós ditadura já está rendendo-se à informação, que se processa neste próprio meio que ora utilizamos, a internet... é preciso que a tornemos de fato produtiva como formadora de opinião e de consciência, para que se consiga ter algum dia uma sociedade que se orgulhe do nível de respeito às leis e sua aplicabilidade em condições realmente de igualdade para todos.

6 fev
Ψ Roberta
É isso aí Aurélio... Tenho que te dar meus parabéns. Fiquei presa em sua entrevista por realmente achar fantástico alguém ter dado a volta por cima tão formidavelmente...Todas as dúvidas que tinha já foram aqui colocadas e devidamente respondidas por vc... Só resolvi escrever aqui pra te dar meus agradecimentos, pois é uma tremenda lição de vida.Tudo de muitíssimo bom pra vc... =)Beijos...

6 fev
ღMarianneஜ
Nao sei se ja te perguntaram isso: preso vota no Brasil?

6 fev
JEZIEL
Na sua opnião, existe igualdade comportamental entre um estelionatário, um homicida, um ladrão (ou crimes relacionados), e uma grande empresa que usa de seu poder econômico para andar (discretamente) as margens das leis trabalhistas, ambientais e fiscais?

6 fev
Aurelio
Roberta...
Obrigado pelo elogio... espero que o sistema mude ao ponto de tornar possível a outros conseguirem isso de uma forma mais natural. Basta apenas que as leis sejam aplicadas integralmente, ou seja, que se trate essa questão como sendo de reeducação e de recuperação e não de simples encarceramento e punição.Beijos

6 fev
Aurelio
Mariane...
O preso na prática é impedido de votar, a partir do momento em que foi recolhido à prisão, de forma arbitrária e ilegal, pois mesmo antes de ser julgado e condenado, já lhe vedam o direito/dever de votar, desrespeitando o princípio da presunção de inocência entre outros. É preciso também lembrar, que nenhum direito pode ser suprimido, senão os que estão expressamente declarados na sentença e que a única coisa que é automática é o fato de se tornar inelegível enquanto sob os efeitos de uma sentença condenatória, nenhuma restrição existe na lei quanto ao direito de votar.As penas são de reclusão apenas.

6 fev
Aurelio
Jeziel..
Sem querer entrar em complicadas elocubrações filosóficas... diria que a igualdade comportamental é a certeza de que nunca serão pegos, ou de que são mais espertos do que os outros... isso até que a "casa caia"... depois disso, o que muda é o tratamento, pois sempre o fator econômico é que dita a quantidade de sofrimento e punição imposta a cada um... sendo inversamente proporcional ao status financeiro e social de cada acusado.

9 mar
Tati
Aurelio: como você vê os projetos de lei aprovados no congresso em relação ao uso de celulares nas cadeias e à progressão de regime para crimes hediondos?um abração pra ti.

9 mar
■ São Dogbert
Aurelio:
Lembras da posição da Claudinha na DH, de que deveria ser permitido o consumo de Cannabis nos presídios, pois isso é demanda da população carcerária e auxilia a manter os ânimos calmos? Que achas da idéia?

9 mar
Aurelio
Tati...
Quanto ao uso de celulares... acho absurda a decisão, partindo do pressuposto de que a pena é de reclusão tão somente e não de incomunicabilidade. Penso que o problema não está em o apenado fazer uso de telefone (fixo ou celular), mas quanto ao uso que faz dele, portanto, o mais lógico é que se aprovasse a quebra do sigilo telefônico nessas regi~]oes e estabelecessem um monitoramento permanente das ligações geradas naquela área. (Se bem que não somente apenados iriam ficar um tanto aborrecidos de terem suas conversas gravadas...). A proibição somente terá o condão de estimular ainda mais a corrupção e aumentará o valor a ser pago tão somente... e sempre haverá algum preso cuja situação jurídica não permita mesmo qualquer tipo de benefício, para assumir as faltas disciplinares...Quanto à progressão de regime para os Crimes Hediondos, até que enfim resolveram modificar de forma acertada esse verdadeiro elefante branco de autoria do "nobre" Roberto Jefferson denominado Lei dos Crimes Hediondos.a Lei contrariava todos os preceitos de individualização das penas ao vedar a progressão, sendo inconstitucional e absurda desde a sua forma original que, dava tratamento único a diversos tipos penais, condiderados hediondos. Posteriormente, numa manobra imoral e claramente destinada a beneficiar uma clientela específica, modificaram a Lei dos Crimes hediondos apenas em relação aos crimes de tortura, onde estes poderiam então ser executados de forma progressiva (creio ser desnecessário mencionar a quem isso beneficiou, pois crime de tortura é praticado normalmente por representantes do próprio Estado...). Daí tivemos então que tal Lei passou a ter um texto que conflitava com ela mesmo, pois se admitida a progressão mediante 1/6 da pena do fechado para o semi-aberto e após mais 1/6 do semi-aberto para o aberto, temos que com 1/3 o apenado estaria no regime aberto, que face à inexistência de unidades para esse regime, se transforma em prisão domiciliar equiparada ao Livramento Condicional...

9 mar
Désirèe♪
Achou que, de fato, morreria em algum momento?Se apoiou em alguma religião ou similar?

9 mar
Aurelio
Que a mesma Lei previa apenas com cumprimento de 2/3.. ou seja... na pratica, com 1/3 atingia-se o que com 2/3 era o requisito, portanto conflitante o texto da lei com ela mesmo.Que se proponha aumento de prazo para a progressão, como no projeto atual, é admissível e não contraria o princípio de individualização das penas, além de atender ao anseio de dar resposta mais dura a esses tipos penais, portanto considero afinal acertada a atual medida.Espero, entretanto que não se limitem as alterações ao texto das leis, e tampouco ao que se refere apenas ao prazo de encarceramento, mas que se cobre o cumprimento integral da LEP, adequando as unidades à recuperação e reeducação, ao trabalho, ao estudo, que sejam criadas as unidades para todos os regimes, enfim, que a questão seja tratada sob o prisma da recuperação e não apenas do encarceramento simplesmente.

9 mar
Aurelio
São Dogbert...
Por motivos pessoais, sou contra a liberação das drogas, mas posso afirmar com certeza de que uma prisão sem drogas e cigarros é um barril de pólvora prestes a explodir....

Aurelio
Desiree...
Uma prisão via de regra é um lugar onde vc tem certeza de que entrou.. e nenhuma segurança quanto a sair vivo... por n fatores.Apenas sempre tive certeza de que se isso ocorresse, não seria motivado por algum erro meu em relação ao meio em que vivia...Apoiar-me em religião não... mas vez ou outra fazia minhas orações particularmente, e sempre tive um contato bom com o pessoal da Pastoral Penal (católicos) e com Kardecistas, participando de missas e de algumas reuniões. Só realmente nunca tive interesse quanto aos Evangélicos, que respeito, mas não compartilho de suas idéias e princípios.

9 mar
■ São Dogbert
"uma prisão sem drogas e cigarros é um barril de pólvora prestes a explodir"Isso me lembra aquele ditado: "mãos vazias são a oficina do Diabo!"Achas que a principal razão da incrível demanda de drogas no ambiente prisional é devida ao tédio gerado pelo ócio forçado ou é devida à busca de uma fuga existencial mais profunda em função da desesperança gerada tanto pela realidade econômica quanto pelo sistema carcerário? (Pergunto porque suponhgo que, se fosse em função do tédio, haveria uma boa chance de abandono da dependência química por parte dos egressos, mas não é isso que eu vejo acontecer com a imensa maioria dos que deixam o sistema. Aliás, muitas vezes por isso mesmo é que muitos retornam respondendo por tráfico.)

9 mar
Aurelio
São Dogbert...
O preso tem um fator a considerar, e que "pesa" realmente no dia-a-dia... o tempo... a ociosidade... mede-se o tempo pelo dia de visitas, pois este para uns significa rever a família, um momento de carinho, uma comida diferente... um momento de descontração face tensão constante do cárcere... isso para os que têm a felicidade de ter alguém que os visite na prisão... da mesma forma, é importante para outros, que não têm visitas, pois com certeza participarão seja de um prato de comida diferente, ou mesmo por conta do que a visita movimenta os pequenos comércios informais, desde pequenas cantinas, outros desenham papéis de carta, outros fazem um artesanato, outors vendem cigarros fiado para pagar no dia de visitas... outros vendem drogas pelo mesmo sistema... daí conclui-se que o dia de visitas é realmene o dia mais importante e o que de fato movimenta esse "universo à parte" que é o cárcere.Dentro desse contexto, muitos utilizam as drogas, como forma de fazer passar o tempo sem sentir, como fuga mesmo da triste realidade dos "dias sem visitas", onde a ausência de atividades de trabalho e de ensino contribui em demasia ao ócio pernicioso e entediante ao extremo.Desnecessário dizer que o apenado também não pode fazer uso de bebidas alcoólicas, sendo estas tão ilegais quanto as drogas no interior de uma prisão e, curiosamente, o uso de bebidas alcoólicas gera mais problemas e atritos entre os presos do que o uso de drogas como maconha ou cocaína, razão pela qual chegou a ser proibida (a bebida alcoólica) pelas próprias lideranças dos apenados em algumas prisões do RJ;

7 abr
Anônimo
Aurelio
Quando estava preso, passou pela sua cabeça a possibilidade de puga?

7 abr
Anônimo
fuga*

8 abr
♪♪Tony♪♪
VC chegou a ficar preso junto com Celsinho?(Celso russo de PadreMiguel)

8 abr
João
É comum a existência de "códigos de honra" dentro da prisão instituídos pelos próprios presos? Em que se baseiam e o que propagam?

8 abr
Jorge
Aurelio
Muitos falam que o código penal que ai esta é ultrapassado, mesmo que em alguns aspectos seja verdade, ele não é usado com as devidas responsabilidades e verdade, explico.Temos toda violência começando nos bairros e ela tem um motivo social, com isso todos concordamos, mas a pergunta é, qual o fator maior para que essa violência seja iniciada no gueto e que ninguém cita?Eu penso que as crianças vêem na policia, em SP principalmente a civil, um péssimo exemplo, onde apenas laranjas vão para cadeia e traficantes e assassinos com dinheiro saem pela porta da frente. Sabemos que a autoridade maior no bairro é o delegado e esse é fator primordial para que alguém,seja honesto ou não, fique preso, depende apenas de como ele preenche os documentos e envia ao Juiz. Vemos policiais visitando bocas em busca do recebimento de propinas ou quando algum conhecido é preso e vamos auxiliá-lo, somos convocados para um “acerto” que nunca é inferior a 5 mil.Minha pergunta: Comente o que eu falei de acordo com sua visão e me responda se você acha que o CP se fosse colocado em pratica por policiais sérios, diminuiria a criminalidade em pelo menos 20%.Você não acha que deveria haver uma investigação rígida nas delegacias, em busca dos 80% dos corruptos?Parabéns pelo seu exemplo.PAZ

9 abr
Aurelio
Mágico...
Passou sim... e acabei fugindo 2 vezes...

9 abr
Aurelio
Tony...
Se vc se refere ao Celsinho da Vila Vintém... estive sim, na Milton Dias Moreira

9 abr
Aurelio
João...
Em qualquer grupo que esteja em confinamento, seja numa prisão, seja num quartel, ou até mesmo no tão falado Big Brother, sempre haverá o surgimento de códigos de condutas próprios, onde o fator preponderante será o aspecto de lealdade, além de regras próprias de convivência. O que pode mudar são as consequências a que estarão sujeitos aqueles que contrariam essas normas naturais de conduta...Numa prisão, ser um delator, ou ter praticado estupro, ser de uma facção inimiga, ter praticado atos de opressão contra os mais fracos, e até mesmo ocultar a condição de homossexual podem ser consideradas ofensas graves a esse código de conduta, passíveis de consequências gravíssimas.

9 abr
Aurelio
Jorge...
Torno a dizer, que o que falta realmente é a aplicação integral da Lei de Execuções Penais e do próprio Código Penal, ou seja, isso tem de se dar em duas vias: Cobrando todos os deveres com o maior rigor, mas não só do apenado, também do Estado e de seus Servidores, no cumprimento integral da Lei.Cobrar todos os deveres, concedendo todos os Direitos.Cobrando a Disciplina, mas proporcionando o Trabalho e a Educação, e o tratamento digno, sem espancamentos, sem a necessidade de recorrer à corrupção para que um processo tenha o andamento normal...Falta ao Estado e seus representantes, sobretudo, a condição Moral para poder cobrar, pois somente se pode cobrar aquilo que se ensina e pratica. Quem não cumpre a Lei, não tem, em minha opinião, a condição Moral para cobrar o respeito à mesma.
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Em Nome do Pai


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"As fotos e vídeos não refletem, necessariamente, a opinião do entrevistado, sendo meramente ilustrativas e de responsabilidade da editora do Blog."
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